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Conheço sem muita profundidade a obra de Araquém Alcântara (ele está no jogo Perfil 4), mas mesmo assim posso afirmar que suas fotografias são belíssimas, daquelas que enchem os olhos da gente. Araquém lançou seu 42 livro com 82 fotografias em preto e branco, que segundo ele ‘é uma obra com o máximo de informação e com o mínimo de palavras’. O título da obra é Araquém de Alcântara: Fotografia.
Poesia e engajamento
Afra Balazina- O Estado de S. Paulo
Hoje não é possível falar de fotografia de natureza no País sem ter Araquém Alcântara como referência. Prestes a completar 40 anos de carreira, ele detém o recorde de vendas de livro de fotografia no Brasil. Sua obra mais famosa, TerraBrasil, lançada em 1998, vendeu 82 mil exemplares.
Para concluir o livro, Araquém levou 11 anos, percorreu todos os parques nacionais existentes na época, conheceu a fundo os biomas brasileiros e chegou a morar na Amazônia.
No mês passado, ele relançou a obra revisada – cerca de 50% das imagens são novas. E também publicou Araquém Alcântara: Fotografias, com imagens em preto e branco de paisagens e retratos em diferentes partes do País: Mococa (SP), Tailândia (PA), Santos (SP) e Chapada dos Guimarães (MT).
Início. Seu primeiro ensaio fotográfico foi sobre urubus. Desde então, mescla engajamento social e ambiental. Um de seus mestres é o fotógrafo americano Ansel Adams (1902-1984), que com seu trabalho ajudou a criar vários parques nos EUA.
O engajamento de Araquém pode ser confirmado numa de suas primeiras “campanhas”. Para evitar a construção de usinas nucleares na Jureia (hoje protegida), andou 36 km a pé para conseguir chegar ao ponto ameaçado. Seu pai, Manuel Alcântara, o velho Queco, foi com ele e serviu de modelo para uma fotografia-denúncia que correu o mundo.
Testemunha. As andanças permitiram que Araquém acompanhasse a degradação ambiental de muitas partes do País. Ele lamenta a atual situação do Vale do Jequitinhonha (MG) e a crescente desertificação no Piauí – com destaque para as voçorocas do município de Gilbués, arrasado pela mineração. “Não resta mais nada das araucárias e, na Caatinga, estão destruindo a mata seca. Também temo a savanização da Amazônia, já prevista pelos cientistas”, diz.
Mas lhe dá esperança o exemplo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, criada pelo biólogo José Márcio Ayres com o intuito de proteger o macaco uacari-branco. Nesse tipo de unidade, a população do local não é expulsa e pode usar os recursos naturais de maneira equilibrada.
Onças e apuros. Uma de suas imagens mais conhecidas é de uma onça-pintada olhando para a câmara – a capa do TerraBrasil. O animal foi flagrado na reserva Ducke (AM). O fotógrafo sabia que a espécie habitava a região e foi ao local com mais duas pessoas. A onça parou a 35 metros e chegou a se posicionar para o ataque, mas foi embora. Araquém conta ter desperdiçado 90% das fotos de onça que poderia ter feito ao longo dos anos – um problema no flash foi um dos motivos.
Ele também passou por apuros para garantir registros. Foi sequestrado por índios no Rio Baú (afluente do Xingu) e esteve perto da morte quando o monomotor em que viajava fez um pouso forçado em Roraima e quando quase caiu numa cachoeira no Rio Cotingo – conseguiu saltar da canoa pouco antes da tragédia. Para ele, a profissão que escolheu é o oposto do glamour. “A fotografia de natureza é um exercício de meditação, contemplação e paciência.”